Entrevista de Magnus Carlsen ao Zeit Online

" O xadrez é uma ferramenta para tornar o mundo um lugar mais inteligente "

Há momentos em que Magnus Carlsen sabe exatamente o que está fazendo. Mas, em seguida, ele retorna para o tabuleiro e continua a sua busca da perfeição no xadrez. Agora, ele está vindo para Hamburgo.

Entrevista: Ulrich Stock

18 de Fevereiro de  2016, 18 h 

 

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Seite 2 - Não é o xadrez um jogo para os muçulmanos?

ZEIT ONLINE: Magnus Carlsen, você estará defendendo seu título como campeão mundial de xadrez nos Estados Unidos em Novembro, mas ainda não se sabe onde. Será que vai ser Nova York, Chicago, Los Angeles?

Magnus Carlsen: Eu realmente não sei. Disseram-me que que há apenas mais alguns detalhes antes de a localização ser revelada. Esperamos obter a resposta em breve!

 

ZEIT ONLINE: Os jogadores de xadrez são conhecidos no planejamento de vários movimentos à frente durante os jogos. Por que é tão difícil planejar eventos mundiais de xadrez mais do que alguns meses de antecedência?

Carlsen: Bem, isso é uma boa pergunta, mas acho que estamos indo na direção certa. O país para o Campeonato Mundial é conhecido desde a cerimónia de encerramento em Sochi em 2014, e que é o primeiro, tanto quanto eu sei.

 

ZEIT ONLINE: O seu sucesso despertou enorme entusiasmo pelo xadrez na Noruega. Por que não organizar o Campeonato do Mundo em Oslo?

Carlsen: Eu vou concentrar-se em meus preparativos e deixar que os outros se concentrem em decidir a localização. Atualmente, é a Agon, o parceiro comercial da Fide, que escolhe o local. O seu objectivo é encontrar um local que seja bom para o xadrez em geral e não apenas para mim.

 

ZEIT ONLINE: Os seus resultados em torneios a jogar em casa não têm sido tão bons como aqueles no exterior. Porquê?

Carlsen: No xadrez, "jogar em casa " não é necessariamente uma vantagem. Eu não sei exatamente o porquê, mas talvez seja um pouco mais difícil estar 100 por cento focado, quando você conhece todo mundo e o ambiente é muito familiar.

 

ZEIT ONLINE: Não importa qual seja o torneio que você joga, será sempre o favorito. Milhões de fãs seguem seus jogos e ficam decepcionados com resultados pobres. Como você lida com a pressão?

Carlsen: Eu tenho minha própria maneira de medir o padrão dos meus jogos e brincadeiras. Às vezes eu estou quase desapontado, mesmo depois de uma vitória, se eu sentir que o nível do jogo foi abaixo dos meus padrões. Então é isso, a pressão vem do meu desejo de jogar bem xadrez e de atender meus próprios padrões.

 

ZEIT ONLINE: Você é Campeão do Mundo desde 2013 e tem sido  número um do mundo desde julho de 2011. O que o mantém motivado?

Carlsen: Minha motivação é aprender. Eu sinto que ainda há tantas coisas no xadrez que eu não conheço. Eu não sei se isso vai me levar a jogar melhor, mas a minha curiosidade com o xadrez ainda é muito alta.

 

ZEIT ONLINE: Bons jogadores às vezes se cansam de xadrez. Eles se sentem como se já vissem de tudo, que falta emoção. Será que o xadrez alguma vez o aborrece?

Carlsen: Normalmente não, mas depois de uma derrota pode ser bastante sombrio. Então, às vezes eu pergunto o que estou fazendo, por que estou aqui neste torneio tolo. Mas passadas algumas horas, eu olho em frente para conseguir minha vingança no próximo jogo.

 

ZEIT ONLINE: O xadrez está sempre em sua mente? Ou você é capaz de tirar alguns dias ou semanas de folga de vez em quando - sem jogar, assistir jogos ou analisar posições?

Carlsen: Sim, mas não com tanta frequência. Eu gosto de fazer desportes, sair com os amigos e coisas assim, mas o xadrez está quase sempre à espreita na parte de trás do meu cérebro em algum lugar.

 

ZEIT ONLINE: O que o fascina primeiro no xadrez e o que ainda o fascina neste jogo?

Carlsen: Eu sempre fui fascinado pelos padrões que se desenvolvem em tabuleiros de xadrez. O xadrez é fácil de aprender, mas impossível de dominar perfeitamente.

 

ZEIT ONLINE: Qual foi o seu momento mais feliz no xadrez?

Carlsen: Quando ganhei o Campeonato da Noruega para crianças com menos de dez  em 2000. Esse sentimento eu nunca vou esquecer.

 

ONLINE ZEIT: Às vezes, o xadrez é criticado como um desperdício de tempo e energia. Alguma vez você já se deparou com tais críticas, e o que você acha sobre isso?

Carlsen: Às vezes eu ouço isso, e então eu sempre concordo com eles.

ZEIT ONLINE: Há algumas semanas, Sheikh Abdul Aziz bin-Abdullah al-Sheikh, o Grande Mufti da Arábia Saudita, declarou xadrez "haram", ou seja, é proibido para os muçulmanos. Ele afirma que o jogo mostra "inimizade e ódio". Qual é a sua resposta?
Carlsen: Minha impressão é de que o xadrez é bom para um monte de pessoas e também para as crianças. Quando eu viajo para torneios, eu sempre tento visitar uma escola e isso me faz feliz de ver o quanto as crianças desfrutam de se envolver no xadrez.

ONLINE ZEIT: Conte-nos sobre a sua agenda. Como campeão do Mundo, você pode influenciar o futuro do jogo mais do que ninguém.
Carlsen: Eu espero poder motivar mais pessoas, especialmente as crianças, para jogarem xadrez. Através da minha empresa, Play Magnus, estamos trabalhando para usar o xadrez como uma ferramenta para tornar o mundo um lugar mais inteligente.

ONLINE ZEIT: Conte-nos um pouco sobre a Play Magnus. Quantos aplicações foram instaladas?
Carlsen: O Play Magnus app tem realmente sido baixado em todos os países do mundo, exceto a Coréia do Norte e o Sudão do Sul. Isso é realmente emocionante. (Então, se alguém da Coreia do Norte ou o Sul do Sudão ler isto, você pode realmente tornar-se o primeiro de seu país com o app!) Os desenvolvedores estão constantemente lançando novos recursos e estou animado sobre como eles foram capazes de gamify xadrez dentro de uma app. Chess se encaixa perfeitamente com telefones celulares e dispositivos digitais, e é claro que você precisa para ir digital para alcançar a juventude.

ZEIT ONLINE: Você poderia imaginar que combina o jogo com outros tipos de esportes? Sabemos, é claro, que o boxe xadrez é uma coisa. E sobre -Diga - biathlon xadrez ?
Carlsen: Eu estou aberto a idéias interessantes que podem levar o  xadrez a novas áreas, e combinando xadrez com outras atividades é emocionante.

ZEIT ONLINE: Dois países parecem ser de importância especial para você, a Noruega e os EUA. E sobre as futuras actividades na Alemanha? O público gostaria de vê-lo mais vezes ...
Carlsen: Bem, em 2015 eu joguei o Grenke Chess Classic em Baden-Baden e o Campeonato Mundial de  Xadrez  Rápido e de Blitz em Berlim. E este fim de semana, eu estou prestes a jogar com 70 pessoas ao mesmo tempo. Então, na verdade, eu tenho jogado mais  xadrez na Alemanha do que em qualquer outro país ao longo dos últimos doze meses.

ZEIT ONLINE: Como foi para você no Campeonato Mundial de Xadrez  Rápido e de Blitz, em Outubro do ano passado? O salão estava cheio de espectadores.
Carlsen: É ótimo para experimentar a atmosfera de uma casa lotada. Enquanto  jogadores de xadrez, não estamos muito mimados com um monte de espectadores online. Eles normalmente estão seguindo os jogos on-line em suas próprias casas. É emocionante ver que os organizadores do torneio estão melhorando a experiência ao vivo, para que mais pessoas venham ver os jogos ao vivo.

ONLINE ZEIT: Qual é a diferença entre jogar na Sibéria, sem uma audiência, mesmo em frente de algumas câmaras de vídeo, contra sendo cercado por uma massa de fãs de xadrez?
Carlsen: Durante um torneio, eu estou numa espécie de bolha, concentrando-me nos jogos, preparações e descansar um pouco no meio. Eu acho que é importante que os torneios sejam organizados profissionalmente e bem promovidos, e que a cobertura seja bem apresentada  para entreter os fãs de xadrez em todo o mundo.

ZEIT ONLINE: De uma perspectiva global, onde você vê um crescente interesse no xadrez? Na Índia? Na China?
Carlsen: Índia e China estão na vanguarda do desenvolvimento e eles têm uma quantidade enorme de talento que está dominando os campeonatos jovens. Minha impressão é de que o xadrez é muito popular entre as crianças em muitas partes do mundo, e é bom ver todos os programas de xadrez a serem implementados nas escolas.

ONLINE ZEIT: Os candidatos torneio será realizado em Moscou em Março, para determinar quem vai desafiá-lo para o Campeonato Mundial de Xadrez. Você tem um palpite de quem possa ser?
Carlsen: Sim! Um dos oito que jogam os Candidatos! Brincadeiras à parte, o campo é incrivelmente grande, e é quase impossível destacar um como sendo o favorito.

ONLINE ZEIT: Onde você estará durante os Candidatos? Em casa, seguindo a competição ? De férias em algum lugar do mundo, longe de combinações e armadilhas mortais?
Carlsen: Eu provavelmente estarei em Oslo a maior parte do tempo. Estou ansioso para seguir o torneio como um fã de xadrez. E é claro que vai ser interessante ver quem será o meu adversário na final  do Campeonato do Mundo.