Entrevista a António Frois
3 de junho de 2016 - sexta-feira - escrito por João Lopes. Foto do português António Fróis, IM, 2297 Elo, nascido em 1962. Entrevista da Federação Portuguesa de Xadrez ( FPX ), no início deste mês.
O Mestre Internacional António Fróis é o próximo entrevistado da FPX. É um jogador que dispensa apresentações, reconhecido pela comunidade xadrezistica em todo mundo, o mestre aceitou o desafio lançado e respondeu a algumas perguntas que lhe foram lançadas.
1. Como surgiu o primeiro contacto com Xadrez?
Algures em Vila Franca de Xira por volta dos 10 anos um amigo ensinou-me os movimentos. Com 14 anos conheci a Académica da Amadora onde me filiei pela 1ª vez em 1976.
2. Qual a foi a competição que mais gostou de participar?
Talvez destaque o campeonato da Europa de Juniores em Groningen em 1982, porque foi essa vivência fantástica que me impulsionou para a decisão de ser profissional de xadrez.
Os dois matches de partidas lentas que joguei contra os meus amigos António Antunes em 1981, e Fernando Silva em 1987 foram também inesquecíveis pela dureza da competição, mas ao mesmo tempo pelo grande respeito que existiu entre nós em ambos os casos.
Nada se compara a um Match em termos de lição de vida!
As Olimpíadas de Xadrez são uma experiência única e a Primeira em que joguei pela Seleção Nacional em Salónica 1984 foi muito especial.
Ganhar a medalha de Ouro do Melhor Tabuleiro ao Serviço da Seleção Nacional Absoluta no Torneio da Fraternidade em Hammamet, Tunísia, em 2006 também foi muito gratificante.
Ganhar a Primeira Liga Galega pelo Deportivo da Corunha em 1992 também foi muito especial.
3. Quais são os seus planos a médio/longo prazo no xadrez?
Sou profissional de xadrez desde 1984 e tenho grande orgulho na minha profissão.
Sou um privilegiado em primeiro lugar pelos pais que tive e pela abertura mental que me passaram, e pelo filho que tenho, e em segundo porque o xadrez me permitiu fazer amigos por todo o Mundo e conhecer culturas e diferentes formas de abordar a vida.
O xadrez é o antidogma porque dentro das regras todas as jogadas são válidas para resolver o problema concreto em cada caso.
É fundamental que as pessoas que vêm ter connosco sintam a tua disponibilidade e saberem claramente quem és.
Quero trabalhar em xadrez onde possa ser útil enquanto tiver saúde. Acredito no xadrez e na importância e contributo inegáveis que o jogo tem para uma sociedade melhor, sobretudo o seu papel na educação e na tomada de decisões.
Jogar, ensinar, escrever, divulgar (talvez o papel mais urgente!), aqui demonstrar que o xadrez é acessível a todos.
Para mim jogar lentas será sempre aquilo que é mais bonito, difícil e que tem mais mérito!,e é para os grandes jogadores que irá sempre a minha admiração.
Acontece que é cada vez mais difícil explicar o valor dos raciocínios e o esforço de preparação que faz cada jogador profissional, antes durante e depois de cada partida lenta.
A sociedade assustadoramente rápida não valoriza a profundidade das lentas.
A magnífica História do xadrez não se faria sem as partidas lentas.
4. Como sabemos o Mestre acumula várias funções no xadrez em qual se revê mais neste momento? Jogador/Treinador/Dirigente?
Joguei mais de 5000 partidas representando Portugal em imensos países.
Eu estudo xadrez todos os dias.
Jogarei sempre mas apenas onde me sinta respeitado.
Jogar xadrez de alta competição dá-te uma preparação muito forte para o Mundo no qual hoje vivemos. Temos de estar preparados para a surpresa permanente neste Planeta no qual tudo muda a uma velocidade vertiginosa. Gosto muito de tentar passar aos outros a experiência daquilo que vivi no tabuleiro.
Gostei muito de começar a escrever, e espero continuar a fazê-lo.
O segundo livro "Campeões Mundiais de Xadrez 1886 a 2010" foi ainda mais apaixonante do que o primeiro.
O trabalho dos Manuais da Formação de Treinadores da FPX permitiu conhecer todo o país e as diversas realidades.
Dirigente apenas colaborando na formação de equipas nos clubes com quem trabalho, porque não tenho nenhuma atração por cargos.
5. Depois de ter sido campeão da Europa de Veteranos de Rápidas em 2014 quais são as próximas metas?
Ter sido campeão da Europa de Rápidas foi o corolário de um trabalho que começou em 1976, porque o xadrez de 3 minutos com 2 segundos de acréscimo é um xadrez de conceitos, as decisões são todas baseadas na experiência anterior.
Todos os adversários que me ganharam, todos os colegas que estudaram comigo me ajudaram a estar preparado para ter aquele resultado.
Como já tenho dito, o trabalho de xadrezista é um trabalho de maratonista.
Eu gosto de seguir a minha intuição e aderir aos projetos que me propõem se os achar interessantes.
Gostava de manter e reforçar todos os projetos onde estou em Portugal.
Também me atrai a ligação fortíssima à Galiza e à Escola de Xadrez de Pontevedra porque os espanhóis em geral e os galegos em particular têm um respeito profundo pelo xadrez.
6. Está também na organização do Profigaia-Open o que podemos esperar da edição deste ano?
Este ano será o 16º Profigaia Open e Memorial Rui Camejo Almeida.
Será um Open Internacional à semelhança dos anos anteriores e que teve mais de 100 participantes na edição de 2015.
O Open será jogado nas excelentes instalações da Escola Profissional de Gaia e terá mais uma vez alguns Mestres convidados.
A Direção da Academia de Xadrez de Gaia tem um respeito profundo pelo xadrez e uma atenção enorme com a imagem do xadrez e, nesse sentido, tenta que toda a gente faça a atividade de que gosta nas melhores condições possíveis.
7. Juntaram ao nome do Open o nome do Mestre Rui Camejo de Almeida, sabemos que está a ser preparado algo para homenagear este que foi uma grande referência do xadrez nacional, pode desvendar alguma informação?
O Rui desapareceu aos 45 anos no principío de este ano e foi jogador e professor de xadrez da Academia de Xadrez de Gaia desde que a Academia existe até que a sua saúde o traiu.
Queremos agradecer-lhe o seu enorme contributo como Ser Humano e também como conhecedor profundo do xadrez e pedagogo, e fazer sentir que estará sempre presente entre nós.
8. O Fróis é também dos impulsionadores da revista “GAYACHESS” revista que surgiu novamente há dois anos, o que podemos encontrar nesta nova edição que está a ser preparada para o Profigaia Open?
A GAYACHESS surgiu em 2015 , uma vez que a Direção da Academia de Xadrez de Gaia entende como indispensável a divulgação das atividades do xadrez como veiculo para crescimento do jogo no nosso país.
A GAYACHESS deste ano em primeiro lugar é também uma homenagem ao RUI CAMEJO.
Nessa homenagem além dos testemunhos dos alunos do RUI, devo agradecer e registar a colaboração do amigo Rui Pereira que não só deu o seu testemunho pessoal sobre o Rui Camejo, como passou à GAYACHESS a experiência do Rui com o Projeto dos Gambosinos.
Para além disso a GAYACHESS tem várias surpresas:
Um artigo técnico fabuloso do nosso Grande Mestre Ljubomir Ftacnik um das pessoas no Mundo que melhor escreve sobre xadrez!
Entrevistas a jogadores portugueses e estrangeiros , profissionais e amadores, da academia e de outros clubes , sempre na procura da maior abrangência possível e no aumento da variedade de colaboradores em relação a 2015.
A GAYACHESS tem informação e partidas comentadas sobre o último torneio de Candidatos, reportagens sobre atividades várias do xadrez nacional.
A GAYACHESS fala de todas as imensas atividades que a Academia de Xadrez de Gaia leva a cabo durante o ano, e que abarcam todo o tipo de xadrez, as evidências de como o xadrez está cada mais presente na sociedade local.
9. Por último o que prevê para futuro do xadrez em Portugal?
É preciso trabalhar a sério.
Toda a gente envolvida na modalidade deve ter a noção clara da importância da Federação Portuguesa de Xadrez para o futuro da modalidade.
A Federação Portuguesa de Xadrez é quem fala oficialmente com o Governo de Portugal e com a Federação Internacional de Xadrez e como tal deve ser muito estimada por todos aqueles que desejam sinceramente que o xadrez cresça.
É essencial falar das grandes vitórias dos jogadores portugueses e de tudo o que de bom o xadrez português tem feito.
Não esquecer que tivemos o meu amigo Joaquim Durão, uma figura de indiscutível relevo mundial, reconhecido pelo Presidente da República Jorge Sampaio!
Calculo que existam de 50000 pessoas a jogar xadrez em Portugal desde colégios, lares, prisões, federados, etc, e é imprescindível divulgar muito bem tudo o que se faz de bom!
Os pais e os avós reconhecem os imensos problemas de atenção e concentração que as crianças têm hoje em dia e o quanto isso é perturbador para o seu rendimento escolar.
Nesse sentido esses encarregados de educação já reconhecem as mais valias do xadrez no sentido de contribuir para a melhoria do rendimento dos jovens.
É preciso aproveitar esse reconhecimento para fazer crescer o xadrez e eu gostava de contribuir para esse crescimento.
Acho importantíssimo que o xadrez consiga entrar nas televisões e na Assembleia da República. Para isso é essencial uma boa imagem.
Como nos ensina o nosso jogo, só com "Força Estratégica" se conseguem grandes coisas nesta vida